, Fórum PAS - Prática em Atenção à Saúde 2016

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Análise comparativa entre a incidência de partos normais e cesáreas na UBS Carlos Amorim e as preferências maternas
Maria Valéria Pavan, Lucas Nanni Benevides de Carvalho, Lucas Rossi dos Santos, Luiz Fernando Cassaro, Marcio Roberto de Cassio Barbosa, Maria Beatriz Raeduti Zafiro, Maria Clara Caparelli, Maria Luiza Wey Vieira, Mariana Cesar de Azeredo Bissoli, Mariana Laís de Queiroz Fonseca, Mariana Leme de Azevedo

Última alteração: 2017-03-28

Resumo


Introdução: O momento do parto é o início do contato mãe-filho, uma fase crucial para que haja a criação de vínculo materno. Para que o bebê se desenvolva de forma saudável é essencial que ele crie uma relação íntima e de cuidado com a mãe, portanto, é necessário que o parto seja humanizado, respeitando as escolhas das mães e, assim, tornando o momento o menos estressante possível para todas as partes envolvidas, de forma a criar um ambiente agradável no momento de entrada do bebê no mundo. No entanto, é preciso fazer com que a experiência de parto traga mais benefícios do que malefícios para a saúde materna e do neonato, sendo o conhecimento médico e a avaliação estratégica do obstetra muito importante nesse momento. Diversos estudos indicam que o ideal é a realização do parto normal, pois esse tipo de parto oferece inúmeras vantagens, como menor risco de infecção, melhora na produção de leite materno, rápida recuperação materna e criação de vínculo materno facilitado. No entanto, a frequência de cesarianas no Brasil tem apresentado um aumento contínuo desde meados da década de 1990. Em 2009, pela primeira vez, a proporção de cesarianas superou a proporção de partos normais no país, alcançando o valor de 52% em 2010, cifra muito superior ao limite máximo de 15% proposto pela Organização Mundial da Saúde (OMS). No parto cesáreo, as percepções positivas estiveram associadas a eventos físicos como a ausência da dor, ser um procedimento mais rápido e a possibilidade de marcar uma data ou realizar uma laqueadura. Em relação aos aspectos emocionais e socioculturais são descritos o controle sobre o nascimento, evitar o medo do parto e da indução, ser uma experiência agradável e desfrutar com segurança da criança. Quanto às percepções negativas, destacam-se as preocupações com os riscos da cirurgia, com as dores no pós-parto, com a recuperação e o retorno das atividades sexuais, assim como ocorre maior descontentamento ao lembrar o nascimento dos filhos. Entre os aspectos positivos que envolvem a escolha do parto normal destacam-se a vivência do protagonismo pela mulher, o qual esteve associado a aspectos emocionais e socioculturais descritos como uma experiência única e relevante, para além da experiência física, que leva ao crescimento pessoal, a construção de uma nova identidade, ao status de ser mãe. Estes fatores, associados à emoção do primeiro encontro com o filho, repercutem numa maior satisfação com a cena do parto. Dentre os aspectos físicos positivos relacionados ao parto normal, são relatados menores níveis de dor no pós-parto, recuperação mais rápida e rápido retorno às suas atividades diárias.  Em relação às percepções negativas, são relatadas complicações com o bebê, a demora e a frequência na realização de procedimentos dolorosos, assim como a ausência de acompanhante, o pouco controle de seu trabalho de parto, a insatisfação com atenção da equipe, a institucionalização do parto traduzida pelo medo, o sentimento de solidão, sofrimento e abandono. Objetivo: Esse trabalho objetivou identificar, na área adstrita pela UBS Carlos Amorim, a incidência de partos naturais e cesarianos comparando estes com o desejo pessoal das mães e realizar uma intervenção educativa sobre os dois tipos de parto, buscando conscientizar as mães sobre as reais indicações para cada procedimento. Métodos: Com o apoio da UBS Carlos Amorim, foi realizado um rastreamento de mulheres que são ou já foram gestantes, por meio de prontuários e histórico médico das pacientes. Foram analisadas as indicações para parto normal e a cesárea e suas justificativas. Posteriormente, foram entrevistadas, pessoalmente ou por telefone, 35 mulheres que já tiveram filhos, visando investigar seu conhecimento sobre o parto normal e a cesárea, suas preferências, bem como o conhecimento sobre as indicações da via do seu parto. A partir desse levantamento de dados, foram diagnosticadas as principais dúvidas presentes na população estudada e elaborada e aplicada uma apresentação para conscientizar as mães sobre as reais indicações para cada procedimento, explicando os riscos, discutindo mitos e realidade e levando informações sobre seus direitos durante o pré-natal, o parto e o puerpério. Após a apresentação foi realizada uma discussão dinâmica com as mães, para que estas pudessem expor seus medos, experiências e dúvidas. Ao final as gestantes responderam um questionário de satisfação. Resultados: Foram entrevistadas 35 gestantes da UBS Carlos Amorim. Os dados mostraram que 51,4% dos partos, um total de 18, foram cesárea, sendo suas indicações: gestação de alto risco, como hipertensão e eclampsia (6), os médicos do convênio não fazer parto normal (2), não sabiam o motivo da indicação (2) e outras indicações (8). É importante ressaltar que, como a UBS se situa em área de risco, as indicações precisas de cesárea tendem a aumentar. Quanto questionadas sobre suas preferências pelo parto, 26 delas (74%) responderam ter preferência pelo parto normal. Avaliado separadamente, verificou-se que entre as que realizaram cesárea, 11 tinham preferência pelo parto normal e entre as que tiveram parto normal, 15 tinham preferência por essa via de parto. A recuperação rápida (citada por 15 mulheres) e parto rápido (citado por 2 mulheres) foram os benefícios mais citados em relação ao parto normal. Em relação à cesárea, foram citados: o menor risco (3); ausência de sofrimento (7) e desconhecimento de qualquer benefício (5). Em relação à satisfação das mulheres quanto ao seu trabalho de parto, 25 se disseram satisfeitas. Entre as 9 mulheres que se disseram insatisfeitas, 5 referiram insatisfação por não terem tido parto normal. Com relação à intervenção realizada para esclarecimento das gestantes, após a palestra foram discutidas as dúvidas das gestantes em relação aos seus direitos durante o pré-natal, o parto e o puerpério, assim como sobre os tipos de parto e indicações de cesárea. Ao final as gestantes responderam um questionário de satisfação, no qual todas se disseram completamente satisfeitas com o nosso trabalho. Discussão e conclusão: De maneira geral, apesar do pequeno número de entrevistadas, os dados obtidos nesta pesquisa foram muito semelhantes aos descritos na literatura, mostrando a validade das informações encontradas. A participação ativa das gestantes durante as atividades e a avaliação positiva que as gestantes fizeram da intervenção, mostram a importância da ampliação da clínica para além das consultas médicas individuais.


Palavras-chave


cesárea; preferência da paciente; parto; saúde materno-infantil