Última alteração: 2017-03-28
Resumo
Introdução: O momento do parto é o início do contato mãe-filho, uma fase crucial para que haja a criação de vínculo materno. Para que o bebê se desenvolva de forma saudável é essencial que ele crie uma relação íntima e de cuidado com a mãe, portanto, é necessário que o parto seja humanizado, respeitando as escolhas das mães e, assim, tornando o momento o menos estressante possível para todas as partes envolvidas, de forma a criar um ambiente agradável no momento de entrada do bebê no mundo. No entanto, é preciso fazer com que a experiência de parto traga mais benefícios do que malefícios para a saúde materna e do neonato, sendo o conhecimento médico e a avaliação estratégica do obstetra muito importante nesse momento. Diversos estudos indicam que o ideal é a realização do parto normal, pois esse tipo de parto oferece inúmeras vantagens, como menor risco de infecção, melhora na produção de leite materno, rápida recuperação materna e criação de vínculo materno facilitado. No entanto, a frequência de cesarianas no Brasil tem apresentado um aumento contínuo desde meados da década de 1990. Em 2009, pela primeira vez, a proporção de cesarianas superou a proporção de partos normais no país, alcançando o valor de 52% em 2010, cifra muito superior ao limite máximo de 15% proposto pela Organização Mundial da Saúde (OMS). No parto cesáreo, as percepções positivas estiveram associadas a eventos físicos como a ausência da dor, ser um procedimento mais rápido e a possibilidade de marcar uma data ou realizar uma laqueadura. Em relação aos aspectos emocionais e socioculturais são descritos o controle sobre o nascimento, evitar o medo do parto e da indução, ser uma experiência agradável e desfrutar com segurança da criança. Quanto às percepções negativas, destacam-se as preocupações com os riscos da cirurgia, com as dores no pós-parto, com a recuperação e o retorno das atividades sexuais, assim como ocorre maior descontentamento ao lembrar o nascimento dos filhos. Entre os aspectos positivos que envolvem a escolha do parto normal destacam-se a vivência do protagonismo pela mulher, o qual esteve associado a aspectos emocionais e socioculturais descritos como uma experiência única e relevante, para além da experiência física, que leva ao crescimento pessoal, a construção de uma nova identidade, ao status de ser mãe. Estes fatores, associados à emoção do primeiro encontro com o filho, repercutem numa maior satisfação com a cena do parto. Dentre os aspectos físicos positivos relacionados ao parto normal, são relatados menores níveis de dor no pós-parto, recuperação mais rápida e rápido retorno às suas atividades diárias. Em relação às percepções negativas, são relatadas complicações com o bebê, a demora e a frequência na realização de procedimentos dolorosos, assim como a ausência de acompanhante, o pouco controle de seu trabalho de parto, a insatisfação com atenção da equipe, a institucionalização do parto traduzida pelo medo, o sentimento de solidão, sofrimento e abandono. Objetivo: Esse trabalho objetivou identificar, na área adstrita pela UBS Carlos Amorim, a incidência de partos naturais e cesarianos comparando estes com o desejo pessoal das mães e realizar uma intervenção educativa sobre os dois tipos de parto, buscando conscientizar as mães sobre as reais indicações para cada procedimento. Métodos: Com o apoio da UBS Carlos Amorim, foi realizado um rastreamento de mulheres que são ou já foram gestantes, por meio de prontuários e histórico médico das pacientes. Foram analisadas as indicações para parto normal e a cesárea e suas justificativas. Posteriormente, foram entrevistadas, pessoalmente ou por telefone, 35 mulheres que já tiveram filhos, visando investigar seu conhecimento sobre o parto normal e a cesárea, suas preferências, bem como o conhecimento sobre as indicações da via do seu parto. A partir desse levantamento de dados, foram diagnosticadas as principais dúvidas presentes na população estudada e elaborada e aplicada uma apresentação para conscientizar as mães sobre as reais indicações para cada procedimento, explicando os riscos, discutindo mitos e realidade e levando informações sobre seus direitos durante o pré-natal, o parto e o puerpério. Após a apresentação foi realizada uma discussão dinâmica com as mães, para que estas pudessem expor seus medos, experiências e dúvidas. Ao final as gestantes responderam um questionário de satisfação. Resultados: Foram entrevistadas 35 gestantes da UBS Carlos Amorim. Os dados mostraram que 51,4% dos partos, um total de 18, foram cesárea, sendo suas indicações: gestação de alto risco, como hipertensão e eclampsia (6), os médicos do convênio não fazer parto normal (2), não sabiam o motivo da indicação (2) e outras indicações (8). É importante ressaltar que, como a UBS se situa em área de risco, as indicações precisas de cesárea tendem a aumentar. Quanto questionadas sobre suas preferências pelo parto, 26 delas (74%) responderam ter preferência pelo parto normal. Avaliado separadamente, verificou-se que entre as que realizaram cesárea, 11 tinham preferência pelo parto normal e entre as que tiveram parto normal, 15 tinham preferência por essa via de parto. A recuperação rápida (citada por 15 mulheres) e parto rápido (citado por 2 mulheres) foram os benefícios mais citados em relação ao parto normal. Em relação à cesárea, foram citados: o menor risco (3); ausência de sofrimento (7) e desconhecimento de qualquer benefício (5). Em relação à satisfação das mulheres quanto ao seu trabalho de parto, 25 se disseram satisfeitas. Entre as 9 mulheres que se disseram insatisfeitas, 5 referiram insatisfação por não terem tido parto normal. Com relação à intervenção realizada para esclarecimento das gestantes, após a palestra foram discutidas as dúvidas das gestantes em relação aos seus direitos durante o pré-natal, o parto e o puerpério, assim como sobre os tipos de parto e indicações de cesárea. Ao final as gestantes responderam um questionário de satisfação, no qual todas se disseram completamente satisfeitas com o nosso trabalho. Discussão e conclusão: De maneira geral, apesar do pequeno número de entrevistadas, os dados obtidos nesta pesquisa foram muito semelhantes aos descritos na literatura, mostrando a validade das informações encontradas. A participação ativa das gestantes durante as atividades e a avaliação positiva que as gestantes fizeram da intervenção, mostram a importância da ampliação da clínica para além das consultas médicas individuais.