Última alteração: 2017-03-28
Resumo
Introdução: a Unidade Básica de Saúde, UBS, Ulisses Guimarães, localizada na Rua Ferdinando Irineu Corra, 36 - Parque Vitoria Regia, Sorocaba – SP recebe os alunos da Faculdade de Ciências Médicas e da Saúde da PUC-SP, dentro das atividades de Práticas de Atenção à Saúde. Ao longo do ano percebeu-se pelos alunos do segundo ano que a gravidez na adolescência é uma preocupação na região, especialmente na Escola Estadual Sarah Salvestro. Considerando que o município de Sorocaba segue há anos sem diminuir sua taxa de mortalidade infantil, e sendo a gravidez na adolescência um fator de risco, é de grande importância abordar esse problema. Diante disso, os alunos de medicina realizaram entrevistas com gestantes adolescentes e realizaram uma intervenção, através de palestras, na escola. Objetivos: identificar os fatores de risco para gravidez na adolescência, levando em conta suas vivências e seu meio social. Realizar uma intervenção, baseada nos dados obtidos nas entrevistas, com o objetivo de diminuir a taxa de gravidez entre as adolescentes da área de abrangência da UBS Ulisses Guimarães. Metodologia: para o grupo focal foram abordadas grávidas e mães jovens da escola estadual e aquelas que fazem acompanhamento na UBS. Foi entregue o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) e o Termo de Assentimento, que foram assinados. Dessa forma, foi acordado um dia e horário para realização do grupo. Cada grupo focal teve em média de uma hora e meia de discussão, que no caso, foi gravada para análise futura. As questões abordadas no grupo focal foram: perfil das adolescentes, a vida sexual, a motivação para a gravidez, as expectativas em relação ao futuro, os sentimentos relacionados à gravidez atual. Tendo em vista a complexidade do assunto foram necessários dois grupos focais. Relacionado ao questionário e a intervenção, foram beneficiados os estudantes do sexto e nono ano da escola. O desenvolvimento de intervenções entre os alunos da escola foi baseado na análise dos dados obtidos através do grupo focal. Com base nessa análise, foi construído um questionário, enviado e respondido online pelos alunos da escola. Assim, foi montada uma intervenção com dinâmica de grupo e palestras para os mesmos alunos que responderam o questionário, em dia e horários combinados com a direção da escola. Resultados: o grupo focal foi realizado com 08 adolescentes, da área adstrita da UBS Ulisses Guimarães em dois momentos. As participantes eram mães ou gestantes adolescentes, que após serem esclarecidas assinaram o TCLE. Em relação ao perfil das adolescentes, a idade variou entre 14 e 17 anos. Somente duas delas residem apenas com o esposo ou parceiro. Apenas uma delas trabalha, mas de maneira informal, e nenhuma delas tem participação efetiva no orçamento familiar. De maneira geral, elas engravidaram logo no início da vida sexual, que ocorreu por volta dos 13 anos e era praticada sem proteção. Não há relatos de grande número de parceiros. Desconhecimento sobre métodos contraceptivos no início da vida sexual aparece em praticamente todas as falas, sendo o uso do coito interrompido considerado um método de prevenção entre todas as gestantes. Também fica bastante evidente a ausência ou pouca abordagem familiar e social do assunto. Aparece uma relação próxima com as agentes de saúde e assistentes da escola. Quando questionadas sobre o risco de doenças sexualmente transmissíveis, apareceram respostas, mostrando certa despreocupação com as DSTs. Em relação à motivação para a gravidez, parece haver certa relação da gravidez com função social, além do relato de felicidade com relação à gestação entre todas. Questionadas sobre os planos que tinham para o futuro, as falas mostram certa ambiguidade entre a realidade e as expectativas, que parecem ainda possíveis de serem realizadas. Alguns dados foram obtidos a partir do questionário aplicado ao total de 210 alunos, cursando o 6º ano e o 9º ano do Ensino Fundamental da Escola Estadual Sarah Salvestro. Em relação ao sexo e o ano que estavam cursando, 49% (103/210) da amostra eram do sexo feminino, sendo que destas 55,3% cursam o 6º ano do Ensino Fundamental e 43,7%, o 9º ano; os outros 51% (107/210) eram do sexo masculino, sendo que destes 59,8% cursam o 6º ano e 39,3%, o 9º ano.Com relação a atividade sexual, 13,6% (14/103) das meninas disseram já ter iniciado a vida sexual, 42,8% alegaram ter tido a primeira relação sexual aos 14 anos. Quanto aos meninos, 14,9% (16/107) responderam “sim” para essa mesma questão. Desses 16 meninos, 31,3% alegaram ter tido a primeira relação sexual aos 12 anos. Quanto à utilização de preservativos de barreira para as meninas já sexualmente ativas, houve uma discrepância entre o número de respostas totais (97) e o número de alunas que alegaram ter tido relações sexuais (14). Acreditamos que foi um viés de entendimento das alunas ao responderem a pergunta. A correta análise dessa pergunta é: das 14 meninas sexualmente ativas, 8 utilizaram camisinha em pelo menos uma relação sexual, correspondendo a 57,1%. O mesmo viés de entendimento ocorreu no questionário dos meninos. Após correções da análise os resultados encontrados foram: 16 dos 105 meninos já iniciaram a vida sexual, correspondendo a 15%. Dos 16 meninos que já transaram, 11 utilizaram camisinha, correspondendo a 68,75%.Ao serem questionados sobre DSTs, 39,8% das meninas afirmaram nunca terem recebido algum tipo de ciência sobre o assunto. Em contra partida, 52,3% dos meninos disseram nunca terem recebido informações sobre DSTs, o que indica a necessidade de maior enfoque em intervenções e instrução para os meninos. Outro dado preocupante foi a baixíssima taxa de idas ao ginecologista. Ao responderem o questionário, 85,4% (88/103) declararam nunca terem ido à consulta ginecológica. Quando indagados sobre a idade que desejam engravidar, 52,4% (52/103) das meninas responderam que a idade ideal seria acima dos 24 anos. Comparando com o sexo masculino, 48,6% (52/107) alegaram o desejo a paternidade também acima dos 24 anos. A fim de conhecer quais seriam as condutas em relação a uma gravidez indesejada nas respectivas idades atuais, 95,3% (102/107) dos meninos declararam não incentivar a parceira a interrompe-la. O mesmo se aplica as meninas, em que 92,2% (95/103) negaram o desejo de uma possível interrupção da gravidez. Do aspecto familiar e profissional, quase a totalidade das meninas declarou morar com os pais (94,2%) e não exercer nenhum tipo de profissão ou atividade rentável (93,3%). O mesmo equivale para os meninos, sendo que 98,1% moram com os pais e 86,9% não exercem qualquer tipo de profissão. Durante as palestras na escola, ficou bastante clara a relação de desconhecimento sobre métodos contraceptivos, utilização e correto manuseio dos métodos de barreira e das DSTs. Principalmente durante as palestras para os alunos do 6º ano, foi visível o desconhecimento de assuntos básicos, como menstruação, a partir de quando uma mulher pode ficar grávida, os tipos de sexo e como as DSTs são transmitidas. Nos 9ºs anos, os alunos já possuíam mais conhecimento. Porém, em ambas as faixas etárias, o correto manuseio e a colocação da camisinha eram desconhecidos. Ao ser apresentados à camisinha feminina, nenhum aluno demonstrou conhecimento sobre o método e como ele deve ser utilizado e colocado. As imagens sobre casos de DSTs geraram surpresa e aversão em todas as turmas. Os palestrantes enfocaram na importância de que meninas visitassem um ginecologista, mas que também meninos visitassem médicos da UBS caso tivessem alterações parecidas às apresentadas durante a palestra. Durante as palestras, o palestrante perguntava quantas das meninas já haviam iniciado o esquema de doses contra o HPV disponível na Unidade de Saúde. Surpreendentemente, quase a totalidade das meninas já havia tomado pelo menos uma das doses da vacina. Descobrimos que elas foram alvo de uma outra intervenção na qual, alunas com idade adequada ao calendário de vacinação proposto pelo SUS foram levadas até a UBS, onde foram aplicadas as vacinas. Conclusões: o grupo focal foi essencial para que os alunos de medicina entendessem as motivações das adolescentes grávidas, reconhecessem os fatores de risco envolvidos nesse processo, assim como suas implicações na vida dessas mulheres. As intervenções realizadas pelo grupo podem ter contribuído como influência para os alunos buscarem informações sobre sexualidade, sobre a gravidez na adolescência e sobre DSTs, solidificando os conceitos ensinados. Este projeto também aumentou a proximidade os alunos do curso de medicina, a escola, e a equipe de saúde da UBS, favorecendo a construção de um projeto de intervenção mais amplo, visando aproximação entre os adolescentes e a equipe de saúde da região.