Última alteração: 2017-12-07
Resumo
Introdução: A qualidade de vida é um conjunto de variáveis que abrange: bem-estar físico, bem-estar material, bem-estar social e o bem-estar emocional. A atividade física acarreta melhorias na qualidade de vida em todos os aspectos, independente de sexo, idade e profissão. A maioria da população brasileira faz uso do Sistema Único de Saúde (SUS) e, uma grande porcentagem dessa é hipertensa, obesa e sedentária, o que constitui um problema de saúde pública. Sendo assim, um montante considerável dos recursos do SUS é gasto para este fim. Nesse contexto, a atividade física surge como uma solução viável, efetiva e relativamente barata para prevenção primária de diversas doenças, visto que pode ser praticada em qualquer lugar e sem uso de equipamentos. Como a Unidade Básica de Saúde tem maior contato com os usuários do SUS, os quais em sua maioria são pessoas altamente suscetíveis a um estilo de vida sedentário, seria um local estratégico para a implementação e incentivo da prática de exercícios físicos, que melhorara a qualidade de vida dos praticantes. A implementação de programas voltados para o incentivo à realização de atividades físicas mostrou, em vários estudos, diversos benefícios, como: melhora da densidade mineral óssea, prevenção da perda de massa óssea, aumento do consumo máximo de oxigênio, melhora da circulação periférica, aumento da massa muscular e prevenção da sarcopenia, melhora dos controles glicêmicos, do perfil lipídico e da pressão arterial, redução do peso corporal, melhora da função pulmonar, melhora do equilíbrio e da marcha, diminuição da dependência para atividades diárias, melhora da auto estima e da autoconfiança, diminuição das quedas e fraturas, diminuição de mortes nas doenças de Parkinson, de esclerose múltipla e de Alzheimer, além de prevenir doenças coronarianas. Portanto, conclui-se que a atividade física na atenção primária se relaciona a diversos benefícios tanto para a esfera pública quanto para a individual. Entretanto, apesar de já ser de conhecimento geral, inclusive da comunidade científica, ainda há pouco investimento nesta área. Metodologia: O objetivo desse trabalho é verificar os efeitos do exercício físico na qualidade de vida dos pacientes que frequentam a UBS Nova Sorocaba. Para essa avaliação, foi aplicado o WHOQOL-brief, cuja versão final ficou composta por 26 questões. A primeira questão refere-se à qualidade de vida de modo geral e a segunda, à satisfação com a própria saúde. As outras 24 estão divididas nos domínios físico, psicológico, das relações sociais e meio ambiente, sendo um instrumento que pode ser utilizado tanto para populações saudáveis como para populações acometidas por agravos e doenças crônicas. Além do caráter transcultural, os instrumentos WHOQOL valorizam a percepção individual da pessoa, podendo avaliar qualidade de vida em diversos grupos e situações. A versão em português foi realizada segundo metodologia preconizada pelo Centro WHOQOL para o Brasil e apresentou características psicométricas satisfatórias. O questionário foi aplicado aos pacientes adultos aptos a responderem as questões, de ambos os gêneros e idades variadas, frequentadores da UBS Nova Sorocaba do município de Sorocaba, antes do início do programa de exercício físico e orientação, e depois de 3 meses da prática das atividades físicas, sendo que é recomendado pelo American College Sports Medicine e pela OMS a prática de 150 minutos de exercícios semanais, de intensidade moderada. Os pacientes também foram orientados a marcar os dias em que praticaram as atividades físicas em uma folha com um calendário que foi oferecido após assinatura no Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. A atividade teve início no dia 05/07/2017 e foi finalizada no dia 04/10/2017, sendo que as orientações dos exercícios foram realizadas por um educador físico, o qual já acompanhava previamente o grupo duas vezes por semana durante 60 minutos. Foram entrevistados, inicialmente, 20 voluntários, porém apenas 6 deles completaram o cronograma de 3 meses e o devolveram para a análise final. Foi realizado, a cada quinze dias, uma visita do grupo de estudantes de medicina responsáveis por este trabalho na UBS para estimular a prática dos exercícios nos outros dias da semana, para completar o tempo recomendado. Os dados foram tabelados e os resultados demonstrados em forma de estatística descritiva verificando sua frequência relativa e absoluta. Discussão e Conclusões: Observa-se que apenas 30% dos pacientes entrevistados preencheram o cronograma até o fim, demonstrando assim, uma dificuldade de adesão ao trabalho. Obteve-se a informação pela líder do grupo, de que a rotatividade de participantes do grupo de atividade físicas é relativamente alta e, por isso, foi relatado a desistência de alguns voluntários. Após a análise dos dados obtidos, pode-se observar que, no domínio físico, das 6 pessoas, 50% (3) obtiveram melhora em relação às respostas do primeiro questionário; no domínio psicológico, das 6 pessoas, 67% (4) melhoraram os índices; no domínio social, das 6 pessoas, 17% (1) apresentou melhora; no domínio meio ambiente, das 6 pessoas, 67% (4) obtiveram melhora; em relação a qualidade de vida, de 6 pessoas, 50% aumentaram os valores do resultado, aproximando-se ainda mais de 100% (quanto mais próximo de 100% maior a qualidade de vida), sendo que tanto nos resultados do primeiro questionário quanto do segundo, as respostas dos domínios se aproximam de 100%, indicando que mesmo aqueles com qualidade de vida 50% melhoraram ainda mais. Com isso, nota-se que todos os participantes mantiveram uma boa qualidade de vida ou melhoraram após os 3 meses de acompanhamento. Obteve-se uma indicação, pelo índice de satisfação em relação aos serviços de saúde, de que os pacientes sentem uma carência dos serviços, o que aponta uma necessidade de maior integração entre a UBS e o grupo de atividade física. Assim, conclui-se que a ampliação das atividades físicas é necessária, pois são potentes ferramentas de prevenção de saúde, reconhecendo que essas práticas geram benefícios biológicos à saúde individual, mas que também são capazes de fortalecer a equidade, a autonomia, o empoderamento e protagonismo do sujeito, além de contribuir para a integralidade e sustentabilidade do cuidado no sistema de saúde. Para tanto, existe a necessidade de mais trabalhos para mostrar a efetividade da atividade em locais de pouco cultivo do exercício físico, principalmente quando ligado ao SUS em sua atenção primária.