, Fórum PAS - Prática em Atenção à Saúde 2017

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Análise e intervenção sobre a não adesão ao tratamento de pacientes hipertensos e diabéticos em grupos de acompanhamento na USF Vila Sabiá, Sorocaba-SP
Frederico Grizzi de Campos, Laura Carolina Garcia, Laura Goldfarb Cyrino, Leonardo Francisco Ribeiro, Letícia Dognani Crespo, Ligia Marques Barbieri, Luana Camargo Humber, Lucas Feldberg Floriano, Lucas Martins Ferreira, Lucas Telles Ribeiro Cotrim, Luísa Motta Justo

Última alteração: 2017-12-07

Resumo


Introdução: Doenças crônicas como a hipertensão arterial sistêmica (HAS) e o Diabetes Mellitus (DM) constituem um grande desafio tanto para os pacientes portadores e seus familiares, quanto para os profissionais de saúde. Isso é devido à dificuldade do controle adequado da pressão arterial e da glicemia, para reduzir as complicações causadas por essas condições. A HAS e o DM são consideradas doenças que causam alta taxa de morbimortalidade e se tornam cada vez mais problemáticas quando o paciente não faz a adesão correta ao tratamento. No Brasil, 25% da população adulta têm HAS e estima-se que em 2025 esse número alcance 60%, atingindo uma prevalência de 40%. Por outro lado, o DM é uma doença crônica caracterizada por distúrbios metabólicos causando hiperglicemia, devido à falta de secreção ou inatividade de insulina. No Brasil, em 2014, estimou- se que existiam 11,9 milhões de pessoas com diabetes, na faixa etária de 20 a 79 anos. Essa estimativa pode chegar a 19,2 milhões em 2035. Nesse sentido, verificou-se a necessidade de aprofundar o conhecimento sobre a não adesão ao tratamento de pacientes hipertensos e diabéticos em grupos de acompanhamento na USF Vila Sabiá, Sorocaba-SP. Objetivos: Analisar a prevalência de adesão ao tratamento de hipertensão arterial e de diabetes mellitus em grupos de acompanhamento continuado na USF Vila Sabiá e promover maior adesão ao tratamento aconselhando e orientando pacientes nos grupos de apoio. Metodologia: O estudo caracteriza-se como uma análise transversal, qualitativa e quantitativa, que buscou verificar a ocorrência de não adesão ao tratamento, em um grupo amostral de acompanhamento continuado de pacientes HAS e DM da USF Vila Sabiá, subdivididos de acordo com parâmetros da escala de risco. A intervenção baseou-se na coleta de dados, avaliando-se os dados referentes à aferição de pressão arterial, dextro, circunferência abdominal e pesagem dos pacientes, além da análise dos prontuários e fatores de risco determinantes. Resultados: O ensaio comunitário realizado neste presente trabalho visou realizar acompanhamento dos pacientes HAS e DM nos grupos que participam do AEC e OMC (Orientação Médica Continuado) e teve sua metodologia de intervenção reestruturada durante o decorrer do projeto devido recentes alterações no protocolo triagem e mudanças na dinâmica dos grupos de pacientes das unidades de saúde de Sorocaba, incluindo a USF Vila Sabiá. Através da aferição e análise dos dados de pressão arterial, dextro, pesagem e avaliação da circunferência abdominal dos pacientes hipertensos e diabéticos durante o acompanhamento do Acompanhamento de Enfermagem Continuado (AEC) na unidade de saúde da Vila Sabiá, ficou evidente que entre o grupo restrito de 15 pacientes assistidos, a maior parte mantém os níveis pressóricos adequados, indicando adesão e seguimento do tratamento farmacológico estipulado durante as consultas clínicas somado às orientações das equipes de acompanhamento continuado da unidade. Por outro lado, uma mínima parcela dos pacientes apresentou níveis pressóricos mais elevados e, quando analisados os prontuários dos mesmos, notou-se que a média da pressão arterial se mantém alta, apontando para uma possível má adesão ao tratamento estipulado durante o acompanhamento, ou até mesmo uma não adequação do paciente a hábitos alimentares preconizados, com menor ingestão de sais e/ou carboidratos. Discussão: A definição de adesão entre diferentes autores, mas, de modo geral, significa o grau de concordância entre a orientação recebida (em relação à frequência de consultas, aos cuidados, à terapia não medicamentosa e medicamentosa) e a conduta do paciente. A adesão ao tratamento, medicamentoso ou não, é fundamental para o sucesso da terapia instituída pelo médico e equipe de saúde. Entretanto, por envolver outros comportamentos inerentes à saúde que vão além do simples seguimento da prescrição e englobar aspectos referentes ao sistema de saúde, fatores socioeconômicos, além de aspectos relacionados ao tratamento, paciente e à própria doença, a adesão ao tratamento vem sendo amplamente discutida e questões fundamentais como conceitos, terminologias e fatores de interferência têm sido abordados. Com base em observação de grupos de pacientes com doenças crônicas, estudos conseguem identificar alguns fatores de risco que influenciam a não adesão. A observação dessas causas proporciona ao médico e demais membros da equipe de saúde a oportunidade de intervir precocemente e criar estratégias alternativas mais cedo. Ambas as condições analisadas englobam tratamentos tanto com uma abordagem farmacológica, quanto envolvendo mudança de hábitos e vícios, ou seja, no estilo de vida. A HAS possui evolução silenciosa e lenta e seu tratamento requer mudanças dietéticas e comportamentais, além de rigor ao seguir a prescrição medicamentosa. Por outro lado, a DM apresenta uma abordagem terapêutica com estratégias flexíveis acerca do cuidado da doença, porém, baixas taxas de adesão ao tratamento e índices de controle glicêmico insuficiente têm sido consistentemente relatados. Na hipertensão arterial, a adesão ao tratamento é um aspecto primordial para o controle adequado da pressão arterial e consequente redução da morbimortalidade. Entre os fatores de risco para a não adesão ao tratamento de HAS estão os efeitos colaterais dos medicamentos, a idade do paciente (foi observado que pacientes acima de 60 anos tiveram cinco vezes mais chance de adesão do que indivíduos entre 35 e 60 anos), assim como fatores biopsicossociais, como ser do sexo masculino, morador de zona rural, baixa escolaridade, baixa renda e falta de rede efetiva de suporte social. Também se destacam as mudanças de esquema terapêutico e a certa complexidade do tratamento (número de comprimidos, horários que devem ser tomados). No controle do diabetes mellitus (DM), a falta de adesão ao tratamento é um desafio frequentemente enfrentado na prática clínica pelos profissionais das instituições de saúde. Assim, impõe-se buscar estratégias de intervenções que visem minimizar essa situação na atenção em diabetes. O tratamento eficaz do DM envolve diversificados aspectos: medicamentos, hábitos alimentares, aferição glicêmica rotineira e prática de exercícios físicos. No entanto, estudos recentes apontam que a adesão ao tratamento do diabetes é, geralmente, deficitária e, entre os fatores associados a não-adesão ao tratamento no DM, está a característica do tratamento que engloba diferentes aspectos e alterações no hábito de vida do paciente, o que demanda maior tempo para cuidado pessoal. É, portanto, um processo de longa duração e grande complexidade, relacionado à interferência em atividades rotineiras associadas ao lazer, além de também apresentar custos financeiros e possíveis efeitos colaterais. A necessidade de um pré-requisito para um autocuidado do paciente, também está associado a não-adesão. A aferição glicêmica diária, automonitorização da glicemia, auto aplicação de injeções ou o manejo de uma bomba de infusão de insulina são cuidados necessários e que demandam tempo e destreza do paciente.. Conclusão: Dessa forma, é visto que, para ambas as doenças, exige-se a adesão e seu incentivo pelos profissionais de saúde. Outros fatores como a precária relação médico-paciente que ocasiona a falta de informações necessárias, a falta de apoio familiar e a discriminação social do portador de diabetes intensificam ainda mais a falha na adesão. Analisou-se, através da intervenção e aplicação do protocolo de classificação de risco vigente, que a nova classificação proposta melhor estratifica os parâmetros associados à escala de risco em relação à anterior. Mas, por outro lado, modifica a dinâmica dos acompanhamentos, alterando os intervalos de retorno dos pacientes e também o modo e quantidade de atendimento anual para cada paciente. Fica em aberto o questionamento se a mudança na dinâmica dos parâmetros avaliativos do risco e acompanhamentos trará melhorias em relação ao atendimento dos pacientes das unidades básicas de saúde ou manterá sem alterações significantes.


Palavras-chave


hipertensão; diabetes mellitus; adesão ao tratamento

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