Última alteração: 2017-12-07
Resumo
Introdução Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a adolescência, compreendida dos 10 aos 20 anos incompletos, refere-se a uma etapa evolutiva na qual ocorre a maturação biopsicossocial do indivíduo. Nessa fase de mudanças, o jovem está sujeito a uma série de influências, tanto ambientais quanto biológicas, configurando o fenômeno da vulnerabilidade. Durante a adolescência ocorre a estruturação da personalidade e a sexualidade está inserida nesse processo, sendo que nessa fase da vida há um aumento do interesse sexual, concomitante ao surgimento dos caracteres sexuais secundários, que também começam a se desenvolver. Esse interesse é estimulado pelas alterações sexuais e pelo contexto psicossocial. As modificações do padrão comportamental dos adolescentes, no exercício de sua sexualidade, vêm exigindo maior atenção dos profissionais de saúde, devido a suas repercussões, entre elas a gravidez precoce. Em 2011, no Brasil, houve 2.913.160 nascimentos; destes, 533.103 de meninas de 15 a 19 anos, e 27.785 de meninas de 10 a 14 anos, representando 18% e 0,9%, respectivamente, de adolescentes grávidas nesta faixa etária. A gravidez na adolescência, além de ser considerada de alto risco pela complexidade de fatores, também tem sérios impactos psicossociais, pois é um grande fator de risco para o abandono escolar, o baixo nível de escolaridade da adolescente, ausência de planos futuros e a repetição de modelo familiar (mãe também adolescente). Por ser um fenômeno complexo e multifatorial- o início cada vez mais cedo das relações sexuais; a crescente "erotização" dos meios de comunicação; a insuficiente educação sexual e a falta de políticas públicas voltadas para esta faixa etária, a gravidez na adolescência requer uma atuação integrada e dinâmica, de forma a tentar conscientizar os jovens sobre seus riscos. Sendo assim, o presente trabalho teve como objetivo abordar o tema da sexualidade com alunos de uma escola estadual do município de Sorocaba, de forma a tentar solucionar dúvidas e curiosidades sobre o tema e proporcionar, por meio de atividades didáticas, a conscientização dos riscos e consequências da gravidez na adolescência. Metodologia Foi realizada uma intervenção na Escola Estadual Sarah Salvestro com estudantes do sétimo ano, tomando-se como base dinâmicas sobre sexualidade contidas no livro “Aprendendo a ser e a conviver”, as quais foram aplicadas em 5 salas com cerca de 20 adolescentes, durante dois dias. No primeiro dia (18/09/2017) foi aplicado um questionário sobre o perfil sócio-econômico e o conhecimento prévio dos alunos a respeito do tema. Em seguida foram feitas duas atividades. A primeira, “Correio Sentimental”, apresentava cenários envolvendo sexo e adolescência que os grupos deveriam discutir e propor uma abordagem. A segunda atividade, “Ouvi dizer que”, abria espaço para a discussão e a quebra de tabus e preconceitos ao falar do que eles já conheciam sobre temas como gravidez na adolescência, sexo homoafetivo e até mesmo a imagem perante amigos e família. No segundo dia (25/09/2017), os adolescentes passaram por uma representação da brincadeira “Batata quente”, a qual explorava o conhecimento deles sobre os métodos contraceptivos existentes, e depois pela dinâmica “Custos da paternidade/maternidade”, que discutia as implicações financeiras de ter um filho. Por fim foi aplicado um questionário final para verificar o impacto da intervenção. Resultados No primeiro dia, 143 adolescentes, de idade entre 12 a 14 anos, participaram das atividades e responderam o questionário socioeconômico, sendo que 73,4% deles mora com quatro ou mais pessoas e a maioria das famílias têm apenas dois contribuintes financeiros. Grande parte dos alunos tem acesso à informação, sendo que 98,6% tem pelo menos uma televisão e 94,4% tem acesso à internet em sua residência. Quanto às expectativas após o término do ensino médio, 41,9% pretendem continuar estudando, 32,1% pretende trabalhar e 24,4% ainda não pensou a respeito. Em relação à gravidez, a maioria acredita que não está preparado psicologicamente e financeiramente para ter filhos antes dos 18 anos. No entanto, ainda havia muitas dúvidas sobre contracepção e sexo seguro, evidenciado pelo baixo percentual de conhecimento sobre os diversos métodos, com exceção do preservativo masculino, conhecido por 90,9% deles. Além disso, apenas metade afirmou ter sido bem informado sobre o assunto, e apenas 64,3% sabiam sobre a contaminação por DSTs através de sexo vaginal, enquanto 13,8% afirmaram ocorrer transmissão através da tosse e do abraço. Na primeira atividade, “correio sentimental”, os alunos demonstraram naturalidade em relação à igualdade de gênero, ao julgarem o ato e não o sexo de quem estava envolvido no caso. Além disso, foi unânime a necessidade da proteção durante o ato sexual, apesar de várias dúvidas sobre métodos contraceptivos e DST. A maioria tratou a homossexualidade de forma natural. Em “Ouvi dizer que” pode-se constatar muitos mitos e questionamentos acerca dos temas abordados. Foram inúmeros mitos falados sobre menstruação, como “não pode lavar o cabelo”, “se subir em uma árvore quando está menstruada a árvore morre”, “não pode usar roupa azul com o cabelo preso”, “se usar maquiagem menstruada, a perna quebra”. Sobre sexo e gravidez, as colocações foram coerentes, com dúvidas pontuais como o sexo na gravidez. Ficou claro o pouco conhecimento acerca das DSTs, sendo a Aids (não HIV) a única DST conhecida pela maioria. Masturbação foi um grande tabu e muitos pareciam não conhecer ou não querer falar sobre ela. A terceira atividade “Batata quente” mostrou o pouco conhecimento sobre os métodos contraceptivos. Os preservativos masculino e feminino foram os únicos reconhecidos pela maioria dos alunos. O restante dos métodos embora pouco conhecidos, despertaram grande curiosidade, principalmente o DIU nas meninas. Por fim, na quarta atividade “Custos da paternidade/maternidade” todos os itens foram superestimados em um valor acima do custo real, demonstrando uma falta de conhecimento de valores. Um exemplo seria que o valor da compra de fraldas girava em torno de R$ 1.000,00 mensal. O segundo questionário aplicado, para 136 alunos, demonstrou uma pequena elevação dos alunos que afirmaram não estarem preparados para ter filhos antes dos 18 anos, sendo as idades entre 20 a 35 anos apontadas como mais adequadas. Apenas 53,7% dos alunos demonstraram ter informações suficientes sobre sexualidade, demonstrando ainda a necessidade de falar mais sobre esse assunto. Apesar de 89% dos alunos afirmarem saber como se contrai DSTs, cresceu para 30,1% a afirmação da transmissão através da tosse e do abraço. A maioria dos alunos afirmou que a intervenção contribuiu para aumentar seus conhecimentos sobre sexualidade e gostou das dinâmicas, sugerindo uma abordagem mais frequente. Discussão e conclusão O desenvolvimento do presente trabalho possibilitou uma análise do conhecimento sobre sexualidade dos alunos abordados, a solução de algumas dúvidas sobre o tema, e a conscientização dos riscos e consequências da gravidez precoce. Os fatores que incidem na ocorrência da gravidez na adolescência são diversos, como a insuficiente educação sexual e a falta de políticas públicas voltadas para essa faixa etária. Embora a maioria dos alunos tenha acesso à informação, o conhecimento sobre temas relacionados à sexualidade continuam deficientes, mostrando que talvez o principal fator para esse déficit seja a falta de diálogo sobre eles nos ambientes em que esses jovens estão inseridos. Isso fica evidente quando apenas 53,7% dos alunos relatam ter informações suficientes sobre sexualidade e os demais temas abordados mesmo após a intervenção. A maioria relatou sentir a necessidade de debates e informações no ambiente escolar. Os resultados obtidos pelo questionário pré-intervenção mostraram que em relação à gravidez, a maioria acredita não estar preparada psicologicamente e financeiramente para ter filhos antes dos 18 anos, faixa etária na qual em 2011 ocorreram 18% do número de nascimentos no Brasil. Um agravante dessa questão é a baixa renda familiar e perspectiva de futuro, exemplificadas pelos 32,1% que pretendem trabalhar após a conclusão do ensino médio enquanto 41,9% vão continuar os estudos. Os resultados também mostraram dúvidas sobre sexualidade e métodos contraceptivos, com apenas 64,3% deles conhecendo a contaminação por meio do sexo vaginal e 13,8% afirmando ter transmissão através da tosse e do abraço. No entanto, durante a realização das atividades, foi unânime o conhecimento da necessidade de uso de preservativos durante a relação sexual. A homossexualidade foi tratada com naturalidade e notou-se a grande quantidade de mitos arraigados acerca do assunto menstruação. Masturbação é grande tabu e muitos não conhecem esse assunto ou não querem falar sobre o mesmo. Os adolescentes demonstraram pouca noção de valores em relação aos custos da paternidade/maternidade. No segundo questionário, aplicado pós-intervenção, notou-se resultados positivos, com pequena elevação dos alunos que afirmaram não estarem preparados para ter filhos antes dos 18 anos de idade. Porém, apenas 53,7% dos alunos demonstraram ter informações suficientes sobre a sexualidade e apesar de 89% dos alunos afirmarem saber como se contrai DSTs, cresceu para 30,1% a afirmação da transmissão através da tosse e do abraço, apontando a necessidade de falar mais sobre os assuntos. Como visto nos resultados, mesmo após a intervenção há uma falta de conhecimento acerca de assuntos como sexualidade, DSTs, gravidez e métodos contraceptivos entre os jovens de baixa renda da escola abordada, que são uma pequena amostra do cenário educacional do país. Isso demonstra a necessidade de mais atividades para a conscientização de adolescentes acerca do assunto e mudança de perspectiva sobre o futuro.