, Fórum PAS - Prática em Atenção à Saúde 2017

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Sexualidade na adolescência: uma intervenção em jovens em situação de risco na Escola Escola Estadual Sarah Salvestro
Lilian Halcsik Sollitari, Júlia Arce, Júlia Margoni Biluca, Júlia Martinez Serrano, Juliana Almeida, Karina Ramos Ponzeto, Katia Scanagatta, Larissa Barrios Medeiros, Letícia Francine Duarte, Letícia Saka Holanda, Lívia Martins Luis Pinto, Lucas Macedo de Almeida Lima, Lucas Peres Arakaki, Lucas Yuri Cetrangolo, Luciana Gurevich, Luis Fernando Aguiar de Paula Filho, Luis Maurício Batalin Júnior, Manoela Trevisan Vigorito, Marcela Cristina Enes, Pedro Benez, Rafaela Degani, Rafael Pereira, Rebecca Andrade, Renata Acorsi, Ricardo Galletti

Última alteração: 2017-12-07

Resumo


Introdução Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a adolescência, compreendida dos 10 aos 20 anos incompletos, refere-se a uma etapa evolutiva na qual ocorre a maturação biopsicossocial do indivíduo. Nessa fase de mudanças, o jovem está sujeito a uma série de influências, tanto ambientais quanto biológicas, configurando o fenômeno da vulnerabilidade. Durante a adolescência ocorre a estruturação da personalidade e a sexualidade está inserida nesse processo, sendo que nessa fase da vida há um aumento do interesse sexual, concomitante ao surgimento dos caracteres sexuais secundários, que também começam a se desenvolver. Esse interesse é estimulado pelas alterações sexuais e pelo contexto psicossocial. As modificações do padrão comportamental dos adolescentes, no exercício de sua sexualidade, vêm exigindo maior atenção dos profissionais de saúde, devido a suas repercussões, entre elas a gravidez precoce. Em 2011, no Brasil, houve 2.913.160 nascimentos; destes, 533.103 de meninas de 15 a 19 anos, e 27.785 de meninas de 10 a 14 anos, representando 18% e 0,9%, respectivamente, de adolescentes grávidas nesta faixa etária. A gravidez na adolescência, além de ser considerada de alto risco pela complexidade de fatores, também tem sérios impactos psicossociais, pois é um grande fator de risco para o abandono escolar, o baixo nível de escolaridade da adolescente, ausência de planos futuros e a repetição de modelo familiar (mãe também adolescente). Por ser um fenômeno complexo e multifatorial- o início cada vez mais cedo das relações sexuais; a crescente "erotização" dos meios de comunicação; a insuficiente educação sexual e a falta de políticas públicas voltadas para esta faixa etária, a gravidez na adolescência requer uma atuação integrada e dinâmica, de forma a tentar conscientizar os jovens sobre seus riscos. Sendo assim, o presente trabalho teve como objetivo abordar o tema da sexualidade com alunos de uma escola estadual do município de Sorocaba, de forma a tentar solucionar dúvidas e curiosidades sobre o tema e proporcionar, por meio de atividades didáticas, a conscientização dos riscos e consequências da gravidez na adolescência. Metodologia Foi realizada uma intervenção na Escola Estadual Sarah Salvestro com estudantes do sétimo ano, tomando-se como base dinâmicas sobre sexualidade contidas no livro “Aprendendo a ser e a conviver”, as quais foram aplicadas em 5 salas com cerca de 20 adolescentes, durante dois dias. No primeiro dia (18/09/2017) foi aplicado um questionário sobre o  perfil sócio-econômico e o conhecimento prévio dos alunos a respeito do tema. Em seguida foram feitas duas atividades. A primeira, “Correio Sentimental”, apresentava cenários envolvendo sexo e adolescência que os grupos deveriam discutir e propor uma abordagem. A segunda atividade, “Ouvi dizer que”, abria espaço para a discussão e a quebra de tabus e preconceitos ao falar do que eles já conheciam sobre temas como gravidez na adolescência, sexo homoafetivo e até mesmo a imagem perante amigos e família.  No segundo dia (25/09/2017), os adolescentes passaram por uma representação da brincadeira “Batata quente”, a qual explorava o conhecimento deles sobre os métodos contraceptivos existentes, e depois pela dinâmica “Custos da paternidade/maternidade”, que discutia as implicações financeiras de ter um filho. Por fim foi aplicado um questionário final para verificar o impacto da intervenção. Resultados No primeiro dia, 143 adolescentes, de idade entre 12 a 14 anos, participaram das atividades e responderam o questionário socioeconômico, sendo que 73,4% deles mora com quatro ou mais pessoas e a maioria das famílias têm apenas dois contribuintes financeiros. Grande parte dos alunos tem acesso à informação, sendo que 98,6% tem pelo menos uma televisão e 94,4% tem acesso à internet em sua residência. Quanto às expectativas após o término do ensino médio, 41,9% pretendem continuar estudando, 32,1% pretende trabalhar e 24,4% ainda não pensou a respeito. Em relação à gravidez, a maioria acredita que não está preparado psicologicamente e financeiramente para ter filhos antes dos 18 anos. No entanto, ainda havia muitas dúvidas sobre contracepção e sexo seguro, evidenciado pelo baixo percentual de conhecimento sobre os diversos métodos, com exceção do preservativo masculino, conhecido por 90,9% deles. Além disso, apenas metade afirmou ter sido bem informado sobre o assunto, e apenas 64,3% sabiam sobre a contaminação por DSTs através de sexo vaginal, enquanto 13,8% afirmaram ocorrer transmissão através da tosse e do abraço. Na primeira atividade, “correio sentimental”, os alunos demonstraram naturalidade em relação à igualdade de gênero, ao julgarem o ato e não o sexo de quem estava envolvido no caso. Além disso, foi unânime a necessidade da proteção durante o ato sexual, apesar de várias dúvidas sobre métodos contraceptivos e DST. A maioria tratou a homossexualidade de forma natural. Em “Ouvi dizer que” pode-se constatar muitos mitos e questionamentos acerca dos temas abordados. Foram inúmeros mitos falados sobre menstruação, como “não pode lavar o cabelo”, “se subir em uma árvore quando está menstruada a árvore morre”, “não pode usar roupa azul com o cabelo preso”, “se usar maquiagem menstruada, a perna quebra”. Sobre sexo e gravidez, as colocações foram coerentes, com dúvidas pontuais como o sexo na gravidez. Ficou claro o pouco conhecimento acerca das DSTs, sendo a Aids (não HIV) a única DST conhecida pela maioria. Masturbação foi um grande tabu e muitos pareciam não conhecer ou não querer falar sobre ela. A terceira atividade “Batata quente” mostrou o pouco conhecimento sobre os métodos contraceptivos. Os preservativos masculino e feminino foram os únicos reconhecidos pela maioria dos alunos. O restante dos métodos embora pouco conhecidos, despertaram grande curiosidade, principalmente o DIU nas meninas. Por fim, na quarta atividade “Custos da paternidade/maternidade” todos os itens foram superestimados em um valor acima do custo real, demonstrando uma falta de conhecimento de valores. Um exemplo seria que o valor da compra de fraldas girava em torno de R$ 1.000,00 mensal. O segundo questionário aplicado, para 136 alunos, demonstrou uma pequena elevação dos alunos que afirmaram não estarem preparados para ter filhos antes dos 18 anos, sendo as idades entre 20 a 35 anos apontadas como mais adequadas. Apenas 53,7% dos alunos demonstraram ter informações suficientes sobre sexualidade, demonstrando ainda a necessidade de falar mais sobre esse assunto. Apesar de 89% dos alunos afirmarem saber como se contrai DSTs, cresceu para 30,1% a afirmação da transmissão através da tosse e do abraço. A maioria dos alunos afirmou que a intervenção contribuiu para aumentar seus conhecimentos sobre sexualidade e gostou das dinâmicas, sugerindo uma abordagem mais frequente. Discussão e conclusão O desenvolvimento do presente trabalho possibilitou uma análise do conhecimento sobre sexualidade dos alunos abordados, a solução de algumas dúvidas sobre o tema, e a conscientização dos riscos e consequências da gravidez precoce. Os fatores que incidem na ocorrência da gravidez na adolescência são diversos, como a insuficiente educação sexual e a falta de políticas públicas voltadas para essa faixa etária.  Embora a maioria dos alunos tenha acesso à informação, o conhecimento sobre temas relacionados à sexualidade continuam deficientes, mostrando que talvez o principal fator para esse déficit seja a falta de diálogo sobre eles nos ambientes em que esses jovens estão inseridos. Isso fica evidente quando apenas 53,7% dos alunos relatam ter informações suficientes sobre sexualidade e os demais temas abordados mesmo após a intervenção. A maioria relatou sentir a necessidade de debates e informações no  ambiente escolar. Os resultados obtidos pelo questionário pré-intervenção mostraram que em relação à gravidez, a maioria acredita não estar preparada psicologicamente e financeiramente para ter filhos antes dos 18 anos, faixa etária na qual em 2011 ocorreram 18% do número de nascimentos no Brasil. Um agravante dessa questão é a baixa renda familiar e perspectiva de futuro, exemplificadas pelos 32,1% que pretendem trabalhar após a conclusão do ensino médio enquanto 41,9%  vão continuar os estudos. Os resultados também mostraram dúvidas sobre sexualidade e métodos contraceptivos, com apenas 64,3% deles conhecendo a contaminação por meio do sexo vaginal e 13,8% afirmando ter transmissão através da tosse e do abraço. No entanto, durante a realização das atividades, foi unânime o conhecimento da necessidade de uso de preservativos durante a relação sexual. A homossexualidade foi tratada com naturalidade e notou-se a grande quantidade de mitos arraigados acerca do assunto menstruação. Masturbação é grande tabu e muitos não conhecem esse assunto ou não querem falar sobre o mesmo. Os adolescentes demonstraram pouca noção de valores em relação aos custos da paternidade/maternidade. No segundo questionário, aplicado pós-intervenção, notou-se resultados positivos, com pequena elevação dos alunos que afirmaram não estarem preparados para ter filhos antes dos 18 anos de idade. Porém, apenas 53,7% dos alunos demonstraram ter informações suficientes sobre a sexualidade e apesar de 89% dos alunos afirmarem saber como se contrai DSTs, cresceu para 30,1% a afirmação da transmissão através da tosse e do abraço, apontando a necessidade de falar mais sobre os assuntos. Como visto nos resultados, mesmo após a intervenção há uma falta de conhecimento acerca de assuntos como sexualidade, DSTs, gravidez e métodos contraceptivos entre os jovens de baixa renda da escola abordada, que são uma pequena amostra do cenário educacional do país. Isso demonstra a necessidade de mais atividades para a conscientização de adolescentes acerca do assunto e mudança de perspectiva sobre o futuro.


Palavras-chave


sexualidade; DSTs; métodos contraceptivos; gravidez precoce