, Fórum PAS - Prática em Atenção à Saúde 2017

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Importância da hemoglobina glicada em avaliação e controle do diabetes mellitus na atenção básica à saúde
Tatchia Puertas Garcia Poles, Guilherme Satoshi Kameoka, Guilherme Vendites Minossi, Gustavo de Brito Venâncio dos Santos, Gustavo Moreira, Henrique Rabelo Cortines, Igor de Oliveira Roversi

Última alteração: 2017-12-07

Resumo


Introdução: No Diabetes Mellitus (DM), a hiperglicemia prolongada é bastante nociva ao organismo, havendo importante relação entre os níveis séricos elevados de glicose e o surgimento das complicações da doença. Ao longo do tempo, o descontrole permanente é responsável por inúmeras complicações orgânicas que resultam em dano tecidual, perda de função e falência de órgãos-alvo. Atualmente, a hemoglobina glicada é o exame considerado padrão-ouro no controle do Diabetes Mellitus tipo 1 e 2, pois fornece uma avaliação retrospectiva de um período de 60 a 90 dias da glicemia do paciente, bem como na avaliação de risco das complicações crônicas. Esse biomarcador apresenta responsividade relacionada a alterações no estilo de vida do paciente (nutrição, exercícios físicos, perda de massa corporal) e terapia farmacológica. Segundo a American Diabetes Association, considera-se o critério diagnóstico para DM 1 e 2 uma HbA1c maior ou igual a 6,5% e pré-diabetes entre 5,7 e 6,4%. Através dos níveis de HbA1c do paciente, podemos estimar os níveis médios de glicose plasmática. Atualmente, inúmeras instituições internacionais de impacto ligadas ao estudo do diabetes promovem discussões para a definição de um método de referência para a dosagem de A1C, visando uma padronização mundial. As dosagens de hemoglobina glicada devem ser realizadas a cada 6 meses em todos os pacientes portadores de DM e a cada 3 meses naqueles que se submeteram a alterações da proposta terapêutica. A efetividade que o tratamento apresenta no paciente diabético está intrinsecamente conectado à sua adesão. Uma das variáveis psicológicas de grande importância é o humor negativo, pois é sugerido que há relação entre um mal controle do diabetes e incidência de ansiedade e depressão. Verifica-se que pacientes com sequelas físicas da doença tendem a não aderir aos autocuidados. Traços de personalidade também são relacionados ao controle do Diabetes. O controle tende a ser complexo em personalidades dependentes, com dificuldades interpessoais e de controle de impulso. Sendo assim, o tratamento deve ser um segmento contínuo e não pautado em metas temporárias. O projeto tem como objetivos: investigar os fatores associados à pobre adesão ao tratamento de Diabetes na população da Vila Sabiá; criar estratégias para aumentar a adesão ao tratamento; aumentar o controle dos diabéticos tipo 2 da Vila Sabiá pela HbA1c; alertar a população dos riscos cardiovasculares que o Diabetes pode causar e avaliar o impacto da intervenção ao longo do estudo. Metodologia: Como critérios de inclusão, o paciente acompanhado pela Unidade Básica de Saúde (UBS) Vila Sabiá deve ter sido diagnosticado com diabetes mellitus tipo I ou tipo II e não possuir exame de Hemoglobina Glicada (HbA1c) realizado há mais de 6 meses ou não estar presente nas consultas e atendimentos agendados, conforme logística de atendimento do Programa de Controle de Doenças Crônicas do Adulto, no mesmo intervalo de tempo. Resultados e Discussão: Após a aplicação dos questionários na amostra selecionada, observou-se que a maioria dos entrevistados não segue uma dieta saudável, mesmo quando preconizada por um profissional de saúde (médico, enfermeiro ou nutricionista), e 41,4% da população acessada não segue uma dieta saudável nenhum dia na semana, e há alta prevalência de alimentos ricos em gorduras e açúcares. A ingesta de frutas e/ou vegetais é precária, e carnes vermelhas e leite integral são consumidos quase todos os dias da semana. Aproximadamente metade dos pacientes são sedentários, ou seja, não realizam nenhum tipo de atividade física durante a semana. Apenas 13,8% afirmam praticar pelo menos 30 minutos de atividade física todos os dias. Contudo, a população de portadores de DM tipo 2 engloba número significativo de idosos portadores de outras patologias, o que pode comprometer a frequência e a realização dos exercícios físicos. No que concerne a monitorização da glicemia, apenas uma pequena parcela (17,2%) monitora diariamente, e mais da metade dos entrevistados não avaliou o açúcar no sangue nenhum dia na última semana, mesmo quando houve recomendação expressa por profissionais da saúde. Os cuidados com os pés, embora rotineiro para grande parte da amostra, é desconsiderado por 13,8% dos entrevistados. Esse número é ainda maior (34,5%) quando perguntados sobre examinar dentro dos sapatos antes de calçá-los. No que se refere ao uso de medicamentos, a maior parte dos pacientes segue o tratamento com a frequência correta (com hipoglicemiantes orais e/ou insulina), embora um terço apresente alguma irregularidade no tratamento. O tabagismo apresentou prevalência de 24,1% na população estudada. No quesito “Medida de Adesão aos Tratamentos”, observou-se adesão considerável da maior parte dos entrevistados, entretanto ainda há expressiva parcela que deixou de tomar os medicamentos recomendados por se sentirem melhor/pior, por ter deixado acabar a medicação e, ainda, menor parcela afirmou ter parado o tratamento por iniciativa própria. Como razões mais apontadas para não acompanhar com exames de rotina estão: aguardando consulta e esquecimento da data do exame. Compreende-se, portanto, uma necessidade do ajuste e da adequação dos esforços da equipe multiprofissional a fim de poder melhorar a comunicação e adesão com tais pacientes. Conclusão: Observou-se que os dados demográficos e sobre os autocuidados são de grande importância para se estabelecer estratégias voltadas para a educação e conscientização direcionadas às necessidades dos indivíduos com DM tipo 2, além de traçar metas quanto ao manejo da doença. A população acessada carece de conhecimento e informação a respeito da própria doença, o que impacta sobremaneira a execução de atividades adequadas no processo de autocuidado. O desconhecimento sobre a própria doença e a ausência de sintomas que muitos pacientes apresentam, são fatores preponderantes na baixa adesão e seguimento do tratamento, bem como na realização de exames laboratoriais periódicos. Considera-se, também, que este estudo em muito pode contribuir com a formação de profissionais da área da saúde melhor preparados para atuar no contexto em que está inserido, com vistas à assistência integral e ao trabalho interdisciplinar, partindo do pressuposto de que a participação do indivíduo possibilita a aquisição de conhecimentos e a troca de experiências. Com isso, espera-se que os profissionais de saúde responsáveis pelas intervenções educacionais, cientes dos entraves que dificultam o conhecimento necessário à população sobre a doença e autocuidados, alcancem resultados desejáveis na conscientização do indivíduo com diabetes como um aspecto fundamental do cuidado na obtenção do controle da doença e, assim, prevenir ou retardar o aparecimento de complicações agudas e crônicas, ajudando na promoção da qualidade de vida dos pacientes portadores dessa doença.


Palavras-chave


hemoglobina A glicolisada; índice glicêmico; diabetes mellitus; atenção básica

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