, Fórum PAS - Prática em Atenção à Saúde 2017

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Capacitação de agentes comunitárias de saúde para melhoria do controle da hipertensão arterial sistêmica nos pacientes da Unidade Básica de Saúde Carlos Amorim em Sorocaba-SP
Carlos Alberto de Oliveira, Marianne Torrezan Salesse, Luiza Tago Neves, Marcela Caroline Pereira Cardoso, Marcella de Lima Bruscatto, Maria Eduarda Figueiredo Rebolho, Maria Luiza Coelho Gozzano, Mariana Gori Pedroso, Mariana Andrade Modesto, Mariana Machado Santos, Mariana Maria de Freitas Silva, Mariana Pires Ferreira

Última alteração: 2017-12-07

Resumo


Introdução: A regulação da pressão arterial consiste em um mecanismo complexo envolvendo sistema cardiovascular, renal e endócrino. A alteração desses mecanismos leva à hipertensão arterial (HAS), na qual os níveis pressóricos encontram-se acima de 140/90mmHg, mantendo-se elevados. Segundo a Organização Mundial de Saúde, cerca de 31% da população brasileira têm HAS, sendo que a doença é um fator de risco para doenças cardiovasculares. O tratamento farmacológico da HAS é protocolado e disponível pelo SUS. No entanto, a alta incidência de complicações é derivada de vários fatores, sendo um deles a não adesão ao tratamento farmacológico. Todavia, apenas o tratamento farmacológico, sem a instrução educacional do paciente, pode ser ineficaz e ainda um fator de não adesão ao tratamento. Com a aprovação da Portaria 648/2006, houve uma reorganização do programa de agentes comunitários de saúde (ACS). Esses profissionais possuem como atribuições a aproximação da população adscrita à Unidade Básica de Saúde (UBS), o desenvolvimento de ações educativas e o desenvolvimento de ações de promoção à saúde. Deste modo, o papel de educação, interação e vínculo com a comunidade cabe ao ACS, membro fundamental da equipe de saúde da família. Objetivos: Elaborar uma proposta de intervenção para agentes comunitárias de saúde visando o acompanhamento medicamentoso e não medicamentoso da HAS. Avaliar o conhecimento prévio de ACS da UBS Carlos Amorim (Sorocaba-SP) relacionados à HAS, aos principais fatores de risco modificáveis e principais formas não farmacológicas de prevenção. Coletar dados da evolução das ACS, mediante questionários posteriores, em busca de resultados positivos da intervenção do projeto educacional. Introduzir conhecimentos referentes aos assuntos citados através de dinâmicas de grupo e uma apostila, a qual será confeccionada pelas pesquisadoras. Metodologia: Trata-se de um estudo ecológico, no qual foi desenvolvida a capacitação das agentes comunitárias de saúde. Inicialmente, fora elaborada uma apostila com conhecimentos básicos sobre hipertensão arterial, a qual foi entregue às agentes comunitárias. Posteriormente, ocorreu a aplicação de questionário, formulado também pelas pesquisadoras. O questionário foi respondido pelas agentes com base em seus conhecimentos prévios e estudo da apostila, a qual abordava fisiopatologia, manejo e tratamento farmacológico e não farmacológico da Hipertensão Arterial Sistêmica, bem como as implicações que tais afecções promovem ao indivíduo e as formas que podem ser usadas para o combate das mesmas por meio de hábitos de vida saudáveis. Após o preenchimento individual de cada questionário, as agentes foram reunidas em pequenos grupos em uma atividade em modelo team based learning. As pesquisadoras atuaram como moderadoras no processo de discussão em cada grupo. Devidamente preenchidos os gabaritos individuais, agentes puderam conferir as respostas certas.  As dúvidas finais sobre cada questão foram elucidadas pelas pesquisadoras. Resultados: A partir dos resultados dos questionários individuais, é possível perceber que houve alto número de acertos nos quesitos HAS em idosos e tratamento não farmacológico da HAS. Também foi possível constatar baixo índice de acerto sobre a fisiopatologia da HAS. No entanto, com exceção da questão que relacionava HAS e diabetes, e as outras questões mencionadas acima, todas as outras obtiveram acertos acima de 50%. Com relação aos resultados após a dinâmica em grupo, apenas as questões sobre aferição da pressão arterial e fisiopatologia da HAS continuaram com baixas taxas de acerto, porém com taxas significantemente melhores que as taxas de acertos anteriores. Comparando os resultados antes e depois da intervenção, é possível constatar presença de melhora na maioria das questões. Há empate nos individuais e em grupo no tratamento farmacológico da HAS e piora no reconhecimento de emergências e urgências hipertensivas. Discussão: Este estudo comparou os conhecimentos pré e pós intervenção de 16 agentes comunitárias atuantes na Unidade Básica de Saúde Carlos Amorim. Sua relevância se mostra ao levar em consideração que a Atenção Básica é a porta de entrada do usuário ao Sistema Único de Saúde e por este motivo deve ser capaz de atender a, no mínimo, 80% da demanda dos usuários, conforme preconizado pela hierarquização de atendimento no SUS. Capacitar adequadamente os agentes comunitários, é dar-lhes subsídios para que permitam ao cidadão exercer seu direito de receber o tratamento adequado, no tempo adequado e de maneira resolutiva. Conforme dados apresentados pela intervenção, foi possível notar o baixo conhecimento por parte das agentes referente a fisiopatologia da HAS, bem como sobre os valores de referência e técnica adequada de aferição pressórica, o que pode vir a diminui a acurácia na identificação precoce de pacientes, principalmente daqueles que se enquadram nos fatores de risco, tais como: excesso de peso e obesidade, sedentarismo, ingestão demasiada de sal, ingestão alcoólica e  fatores genéticos como a hereditariedade. Os baixos níveis de acertos referentes à aferição e a fisiopatologia se mostraram persistentes mesmo após a dinâmica em grupo, o que representa um fator de alerta sobre a assimilação desse conhecimento, entretanto, a melhora dos valores apresentados, reforça a necessidade da capacitação das equipes serem feitas de maneira dinâmica, pois a presença de um ambiente de aprendizado considerado estimulante, pode vir a incrementar o valor educativo de um novo conhecimento, uma vez que torna o educando responsável por sua própria educação. O agente comunitário de saúde deve ser capaz de entender seu papel como elemento transformador na comunidade na qual é atuante. Dito isto, reforça-se a relevância da intervenção, uma vez que os dados obtidos sobre o conhecimento das ACS quanto a suas funções, passaram de 69% nos resultados individuais para 100% nos resultados em grupo. É extremamente relevante o acompanhamento adequado dos pacientes portadores de HAS, pois 31% da população brasileira se enquadra nesse grupo, o que resulta em óbitos em decorrência de doenças cardiovasculares e grande número de óbitos. Por consequência, uma grande parcela dos gastos do SUS são destinados ao atendimento de pacientes que manifestam complicações cardiovasculares decorrentes da HAS. Isso reforça a importância do monitoramento dos portadores de HAS e o quanto as ações dos agentes comunitários de saúde se faz relevante, exigindo assim, sua devida capacitação, que deve permear por todos os aspectos de suas funções, sobretudo àqueles relacionados ao acompanhamento de pacientes com doenças crônicas como a Hipertensão Arterial Sistêmica, dado que seu controle não só reflete uma melhoria na qualidade de vida do paciente, como também reduz os gastos públicos do SUS devido a complicações de determinadas patologias. Permitindo, assim, que a Atenção Básica atenda a sua demanda, não sobrecarregando os níveis de atendimento de maior complexidade. Conclusão: Sabe-se que a as agentes comunitárias possuem um papel fundamental na Atenção Primária, uma vez que estas possuem uma relação extremamente próxima e direta com a população. Neste trabalho, visou-se analisar conhecimentos sobre hipertensão arterial sistêmica no grupo de ACS da UBS Carlos Amorim, objetivando a melhoras desses conhecimentos. Percebeu-se conhecimento inicial presente sobre HAS, no entanto, mesmo com o fornecimento de material de apoio prévio à realização do questionário inicial, esses conhecimentos se apresentaram insuficientes, principalmente quando abordavam o papel da agente de saúde. A intervenção demonstrou-se bem eficiente, uma vez que as dinâmicas de grupo proporcionaram maior conhecimento e esclarecimento de dúvidas sobre HAS. Os resultados obtidos nos questionários pós intervenção apresentam melhora no nível de conhecimento das ACS, auxiliando na melhora da identificação de riscos, contribuindo assim, para um melhor prognóstico ao paciente. Por fim, enfatiza-se a necessidade de enriquecer ainda mais o conhecimento dessas ACS, não apenas sobre HAS, mas com relação à outras patologias de grande importância epidemiológica, melhorando assim a qualidade de vida da população.


Palavras-chave


hipertensão; centro de saúde; promoção da saúde; prevenção primária

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